segunda-feira, 2 de junho de 2014

FILMES TRASH: O LIXO DIVERTIDO

TRASH: um termo que é usado da maneira mais errada possível, pois traduzem ele como qualquer filme ruim ou tranqueira. Trash é o filme sem nenhum orçamento, mas com o máximo de diversão. É o filme que deveria assustar mas acaba matando de rir. O filme que se esforçou pra ser melhor, mas não teve outro remédio senão improvisar. Filme ruim é chato e sem graça. O trash diverte sempre. Filme ruim nunca vira cult, já o trash é adorado. Tranqueira é “Waterworld” (lembram?), produção milionária que aborrece.
"O Monstro da Lagoa Negra": peixão brasileiro, sabiam?
Trash são Zé do Caixão, Ed Wood, Godzilla, Pornô Nacional (porque não?). Gore, Camp, B... há muitos nomes pra filmes desse tipo. Para os não iniciados ou só pra facilitar a conversa, vamos dar uma passada a limpo em cada gênero podreira que todo nós adoramos (ou eu, pelo menos):


"Blácula"
BLAXPLOINTATION: Filme com equipe técnica e elenco quase toda de negros. Por serem produzidos em sua maioria nos anos 70, cabelos black power, roupas coloridas e soul music foram muito usados na tentativas de recriar clássicos com temática black, como “Blácula” e “Blackenstein”.


É o filme, não a banda

FILME B: Hoje em dia chamam todo filme de baixo orçamento de Filme B. Na verdade o termo se refere a filmes que eram complementos dos Filmes A, isso nos anos 30 e 40. Exemplos são “O Zumbi Branco” e “Cat People”.


"O Vingador Tóxico": sucesso absoluto da Troma


CAMP: Filmes de mau gosto proposital, bregas assumidos, como se o diretor fosse o Falcão. Como “O Abominável Dr. Phibes” ou “Vingador Tóxico”, da produtora Troma, que é especialista nesses filmes.
As pessoas mais felizes num filme de terror
DRIVE-IN MOVIES: Como o nome já diz, filmes feitos direto pra esse tipo de cinemas nos anos 50 e 60 (errou se pensou que eram os drive-ins de mulheres pagas, mané).  Aproveitando o público alvo, quase todos eram terror teen, como “I Was a Teenage Werewolf” e “I Was a Teenage Frankenstein”.



"A Noite dos Mortos-Vivos": referência até hoje
CULT: Mais um termo deturpado. Hoje qualquer filme estranho ou diferente é chamado de cult. Na verdade poucos merecem esse título, pois são filmes que com o passar do tempo são cultuados pelos fãs, como “Plano 9 do Espaço Sideral”, “A Noite dos Mortos-Vivos” e o maior de todos os cults, “Rocky Horror Picture Show”.

"O Gabinete do Dr. Caligari"
EXPRESSIONISMO: Movimento artístico que surgiu na Alemanha dos anos 20, é talvez a origem de todos os filmes de terror, pois as luzes, sombras e cenários distorcidos refletiam a loucura humana. “Nosferatu” e “O Gabinete do Dr. Caligari” são mais do que exemplos, são definitivos.

"A Vingança de Jennifer"
EXPLOITATION: É o filme com o objetivo comercial de um tema escabroso ou polêmico. “A Vingança de Jennifer”, sobre estupro, ou “Os Sobreviventes dos Andes”, sobre a tragédia de avião, são alguns exemplos.
"Fome Animal"
GORE: Filmes nojentos, onde o que mais se vê são sangue, vísceras e melecas em geral. “Re-Animator”, “Hellraiser” e “Fome Animal” não são recomendados pra se assistir comendo alguma coisa.
Adivinha quem é?


SPLATTER ou SLASHER: É quase o Gore, mas com umas diferenças. Aqui a violência faz jorrar sangue ou algum membro é decepado, mas não chega ao nojo escatológico. “O Massacre da Serra Elétrica” e “Sexta-Feira 13” são mestres nisso.

"O Silêncio dos Inocentes": uma aula de como se fazer um thriller
THRILLER: O limite entre o suspense e o terror. Na maioria da vezes é policial, mas se tem umas dúzias de tiros a mais ou um teor psicológico forte, ganha esse nome. “O Silêncio dos Inocentes” ou “Seven” são vendidos como policiais, mas apavoram o público mais que o normal.

Pois bem, no começo eles salvaram a pele de muito executivo grandão do cinema. Nos anos 40 os filmes classudos da RKO davam um baita prejuízo. Em 1942 o diretor e produtor Val Lewton recebeu a tarefa de fazer uma série de filmes de horror que não passassem de 150 mil dólares, não levassem mais de 3 semanas pra filmar e tivessem no máximo 70 minutos.
Foi aqui que nasceu a "podreira" que amamos
O primeiro desses, Cat People, rendeu 3 milhões e salvou a RKO da falência. Aí virou moda fazer esse tipo de filme.

Nos anos 50 o gênero se consolidou, com filmes como “O Ataque da Mulher de 15 Metros” e “Plano 9 do Espaço Sideral”, considerado o pior filme de todos os tempos. Nessa época surgiu um tal de Roger Corman, que era capaz de realizar um filme em três dias, aproveitando elenco, restos de película e cenários de outra produção, enquanto os carpinteiros do estúdio demoliam as paredes ao redor.
"O ataque da mulher de 15 metros" e o pior filme do mundo: "Plano 9"
O que também explodia nessa década eram os filmes com carros, garotas e rock’n roll, onde os cartazes exaltavam o quanto selvagens, loucos, sensacionais e adolescentes os filmes eram. Seguindo eles, vieram os filmes de gangues e de mulheres em reformatórios ou prisões.
"Caged" deu todos os esteriótipos dos filmes sobre presídios femininos
Já no início da década de 60, a exploração de Hollywood foi parar nas praias, em filmes como “Praia dos Amores” ou “Como Rechear um Biquíni”. Até mesmo os astros de horror saíram das sombras para as areias: Boris Karloff, em “Ghost in the Invisible Bikini”; e Vincent Price, no inacreditável “Dr. Goldfoot and the Bikini Machine”, em que pretendia dominar o mundo com robôs de biquíni.
Vincent Price e suas roboas
Lá pelo meio dos anos 60, nasceram os filmes de motociclistas e as produções hippies. “Sem Destino” é o clássico absoluto dos filmes de moto, enquanto que “Psych-Out” talvez seja a maior pérola psicodélica do período, deixando registradas as inacreditáveis imagens de Jack Nicholson tocando guitarra num show de rock.
Psicodelia no talo
Essa década também trouxe muita nudez pros filmes. Russ Meyer deveria ser canonizado pelo pares de seios que filmou em “Kiss Me Quick” (sobre aliens interessados na vida sexual do Monstro de Frankenstein) ou no clássico “Faster Pussycat ! Kill ! Kill !
Tura Satana em "Faster Pussycat Kill Kill": nunca presto atenção no rosto dela
Em 1963, o diretor Herschell Gordon Lewis modificaria completamente o horror B ao mais pedaços de garotas desmembradas do que o público conseguia contar. “Blood Feast” inaugurou o gênero gore, com suas feridas expostas e muita tinta vermelha. Nos anos 70 nasceu o slasher, no inesquecível “Massacre da Serra Elétrica”, gênero mais do que estabelecido com “Sexta-Feira 13” e “Halloween”.
"O Massacre da Serra Elétrica": filme feito com a grana de "Garganta Profunda"
Eis então que apareceu o diretor John Waters, com seu gosto pelo grotesco. Sua estrela favorita, Divine, era um travesti  gordo. Na cena final do imbatível “Pink Flamingos”, a câmera focaliza um cachorro cagando e, sem cortes, mostra Divine comendo a merda. Clássico.
Divine e seu banquete

Resumindo, trashmaníacos amam filmes:
De monstros
Sobre presídios de mulheres
Sobre gangues de motoqueiros dos anos 70
De artes marciais
De imitações do Rambo
De Elvis Presley no Havaí
Sobre experiências científicas nazistas
Com o título começando com “A Ilha dos...”
De Hitchcock, John Ford, Sam Peckinpah, John Carpenter, Spielberg, Cronenberg, John Landis, Roger Corman, George Romero, Dario Argento…

E quando falamos de trash, vamos esquecer filmes:
Do Leste Europeu
Alemães (tirando os expressionistas)
Musicais
Sobre minorias
De jazz
Com mais de 2 horas de duração
Sobre dramas pessoais
Do ridículo David Lynch, que faz cult pras massas
O cult absoluto
É tão fácil fazer filmes com pouco dinheiro que a filmografia trash é interminável. Vale lembrar do cult “Rocky Horror Picture Show”, em que até hoje rola uma sessão do filme uma vez por mês nos EUA, com a plateia vestindo as roupas dos personagens, dizendo as falas, cantando, dando seu espetáculo particular. Ou dos trabalhos de Sam Raimi, os filmes da produtora Troma, ou clássicos como “Ataque dos Tomates Assassinos” e “Elvira, a Rainha das Trevas”.
Elvira. Mais uma que quase nenhum marmanjo conhece o rosto
Sempre é bom se aventurar de vez em quando no universo dos filmes preto-e-branco, com monstro de borracha, roteiros sem pé nem cabeça, mulheres seminuas vindas de planetas estranhos ou de cientistas loucos. Tente você também. See ya later...

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