domingo, 30 de novembro de 2014

ROBERTO GÓMEZ BOLAÑOS

Suspeitei desde o princípio.
A certeza da morte é a coisa mais garantida e chata da vida, mas quando ela chega a gente sempre reclama que ela veio na hora errada. Roberto Gómez Bolaños morreu umas 7 ou 8 vezes nos últimos 15 anos, com boatos que sempre pegavam a gente de surpresa. Sua ida definitiva nos pegou desprevenidos, mesmo sabendo de todos os problemas de saúde que ele enfrentava há tempos. Resta a saudade e o agradecimento a um mestre do humor simples, inocente e excelente. Não por acaso, seu apelido Chespirito era um diminutivo espanhol para Shakespeare.
Nascido em 21 de fevereiro de 1929, Bolaños se formou em engenharia, mas sua tendência era mesmo o humor. No fim da década de 40, passou a ser roteirista de rádio e televisão. Seu sucesso o levou, em 1968, para a TV TIM, em programas de meia hora aos sábados, "Los Supergenios de la Mesa Cuadrada" e "El Ciudadano Gómez". Nesses programas ele descobriu sua veia de ator.
Em 1970, a emissora aumentou pra uma hora a duração das transmissões, passando pras segundas-feiras às 20 horas. O nome do programa mudou pra "Chespirito", com vários personagens dele. Nesse ano nasceu o Chapolin e, no ano seguinte, El Chavo del Ocho. Fizeram tanto sucesso que acabaram ganhando séries próprias, conquistaram a América Latina e eternizaram um elenco fora de série.
A chegada ao Brasil se deve muito mesmo a Sílvio Santos, que no início do SBT investia em produções latinas para a grade da emissora. Depois de assistir várias fitas só com o filé das novelas e séries mexicanas, faltava ainda uma fita. Um dos diretores avisou que o acordo pra ter os direitos de transmissão era de comprar todas as fitas. Nessa última, Sílvio viu um menino pobre, outro rico, uma menina sardenta, uma mulher de avental azul, uma produção bem capenga se comparada aos outros programas do pacote. O custo pra dublar e pôr no ar não valia a pena, mas o "Patrão" solicitou 10 episódios dublados como teste. No dia da reunião com os diretores pra avaliar, todos disseram "NÃO" praquele seriado fraco de dar dó. Sílvio agradeceu a opinião e disse: "Vou comprar". Finalmente, em 1984 "Chaves" estreava no programa do Bozo. Exatos 30 depois nos despedimos de seu criador. O garoto órfão deixa muitos órfãos, sem querer querendo.
Pra relembrar (como se fosse necessário hehehe), aqui vai a lista de sempre do blog, com os melhores episódios de "Chaves".


5º LUGAR: O DESPEJO DO SEU MADRUGA
No dia em que finalmente os 14 meses de aluguel viram 15, Seu Barriga dá ordem de despejo ao Seu Madruga. Ajudando a empacotar as coisas, as crianças descobrem um álbum de fotos, que revela histórias do passado do lombriga esticada, como o nascimento da Chiquinha e a chegada do Chaves na vila. Dona Florinda também folheia um álbum, onde vemos o pai do Kiko. Barriga passa o episódio inteiro como vilão, mas no final arruma um jeito de perdoar toda a dívida do Seu Madruga.


4º LUGAR: OS FAROFEIROS
Girafales visita Seu Madruga pra dizer que Chiquinha tinha um limpador de pratas na escola. Pressionada, ela confessa que comprou o produto pra concorrer a uma viagem a Acapulco. Para alegria da casa 72 eles ganham, com a Brux... ops, Dona Clotilde indo junto. Florinda também vai "só de marra", acompanhada de Kiko e Girafales. Seu Barriga chega pra cobrar os aluguéis e descobre que todos foram viajar, resolvendo tirar umas férias também. Chaves fica sozinho, mas Barriga o convida pra acompanhá-lo.
A sequência do hotel mostra a turma na praia e na piscina com seus lindos trajes de banho. O roteiro não é lá essas coisas, já que esse episódio (e um do Chapolin) veio de uma parceria da Televisa com o Hotel Hyatt, onde foi gravado. Apesar de ser meio comercial, é legal por ver o pessoal fora da vila.


3º LUGAR: SEU MADRUGA PROFESSOR
PRE - RI - GO
Parceiro de Bolaños desde o início da carreira, Ramón Valdez nunca tinha aparecido no cenário da escola. Isso até Bolaños criar um roteiro que leva Madruga à sala de aula pra não apanhar da Dona Florinda. Ela fica esperando do lado de fora, enquanto Madruga dá a desculpa de que quer tirar o atraso nos estudos. Ao ver sua paixão no pátio, o professor pede que ele tome conta da sala por um instante, onde ele se promove a professor. Ramon literalmente dá uma aula de interpretação com suas explicações sobre aritmética e geometria.


2º LUGAR: CHURROS
Como diz um grande amigo meu, os churros que parecem sardinhas.
Depois de um episódio em que Chaves rouba churros que a Dona Florinda estava fazendo para o Professor Ling... Girafales bem debaixo do nariz dele, o impensável acontece: ela entra em sociedade com Seu Madruga no ramo de vender churros. Após a confusão no preparo dos quitutes e na montagem da barraca, finalmente podemos ver Madruga em seu elegante uniforme. Ramon mais uma vez toma conta do episódio, ajudado pela maravilhosa dublagem de Carlos Seidl. A interpretação é tão perfeita que a sequência em que ele precisa ir desesperadamente ao banheiro passa a impressão de que ele precisava mesmo heheheh. No fim, ao assumir a culpa no lugar do Chaves pelo sumiço dos churros, convence até mesmo a Dona Florinda de que é um homem de verdade.


1º LUGAR: O JULGAMENTO DO CHAVES
Girafales chega com um presente de aniversário para Kiko, um massacote... digo, gato. Aí começa a chuva de piadas do Chaves. Seu Madruga chega com uma bicicleta que usa em seu novo emprego de entregar lenha, e mais piadas são despejadas pelo garoto do barril. Kiko diz que estava contando piadas ao seu gato, que fugiu para a rua pra se livrar do sofrimento. Kiko e Girafales saem pra procurar o bichano, enquanto Chaves resolve ir com a bike. Kiko volta da rua, dizendo apenas "Atropelado". Todos pensam se tratar do Chaves, mas logo ele aparece e Kiko o culpa pela morte do gato. Girafales se dirige à câmera, anunciando que ele será julgado pelo atropelamento.
Na parte 2, a casa da Dona Florinda é transformada num tribunal: Chaves é o réu, Girafales o juiz, na parte da defesa Madruga é o advogado e Chiquinha a testemunha; na acusação Florinda é a advogada e Kiko a testemunha. Com excelentes piadas, o julgamento tem tentativas de suborno (uma mordida) e ofensas, até que Chaves finalmente é inocentado por querer contar que atropelou o gato por desviar do homem que estava parado que num bocó na rua olhando a "dona bonita".

Ora essa, e achou mesmo que essa postagem não teria um super-herói? Vamos aos cinco melhores do Vermelhinho:


5º LUGAR: CHAPOLIN EM ACAPULCO
Um filme sobre o Chapolin está sendo feito no hotel de Acapulco, com Chato Resto no papel principal. O ator abandona as filmagens e Chapolin vem ajudar o diretor a terminar o filme. Pra complicar, uma enfermeira diz que um louco está à solta no hotel, que diz ser o Homem Nuclear (aquele com a famosa corrida em câmera lenta).
Pra não ficar furioso ele deve ser imitado, gerando a cena mais engraçada do episódio. Chapolin se encontra com o produtor do filme (Barriga) e, como não sabem quem é o Homem Nuclear, um pensa que o outro é o louco. Lembrando da ordem da enfermeira, ficam imitando os gestos um do outro sem parar.


4º LUGAR: A FRONTEIRA
Um trio de turistas (Florinda, Carlos e Ramón) está numa caminhonete em uma floresta, quando precisa parar para Carlos dar uma cagadinha. Aparecem então alguns soldados pedindo os documentos e o único que está sem é Carlos, que esqueceu na aldeia onde estavam. Com isso, os soldados dizem que eles serão fuzilados sem dó. Chapolin aparece, indo buscar o salvo-conduto usando cipós. Ao trazer, descobrem que ele dura até as 6 horas da tarde, só que a caminhonete atola a poucos metros da fronteira. Depois de muita lama na cara, o problema é resolvido da maneira mais "Putz, pode crer" possível.


3º LUGAR: O VERNIZ INVISIBILIZADOR
Ramón Valdez (Madruga) está desconfiado que o pintor contratado por ele está roubando seus objetos de cristal. Comprovando isso, o ladrão foge. Sem querer, Ramón derrama um vidro de remédio num balde de tinta, transformando-o num verniz que torna as coisas invisíveis. Chapolin, que foi chamado pela sobrinha, se empolga e começa a deixar invisíveis vários objetos da casa. Ao saber dessa mistura, o bandido troca o balde por um de tinta comum. Enquanto Chapolin usa a tinta amarela pra tentar tornar invisíveis o bigode e as tatuagens de Valdez, o bandido retorna invisível, pois bebeu a poção. Mas o efeito do verniz dura pouco tempo, revelando o bandido.


2º LUGAR: O CONDE CLEPTOMANÍACO
Carlos é o dono de uma valiosa coleção de selos e recebe a visita de um interessado, o Conde Chiuaua, quer dizer, Terranova. Quando o dono vacila, o Conde furta dois deles. A empregada Atadolfa leva a culpa, chamando o Polegar Vermelho pra ajudá-la. Nesse meio tempo o Conde continua surrupiando coisas pela casa, até açúcar. Com sua astúcia Chapolin descobre o verdadeiro ladrão, que confessa sofrer de cleptomania e acaba ajudando o herói a devolver os selos. Na cena em que Chapolin escala o muro depois de tomar a pílula de nanicolina, Atadolfa e o Conde Terranova ficam só olhando. Porque não puseram ele no alto do muro com as mãos? Realmente seus movimentos eram friamente calculados...


1º LUGAR: VELHO OESTE
Episódios no Velho Oeste eram comuns na série, mas dois deles são especiais. No primeiro, toda a cidade teme o bandido Racha-Cuca, até mesmo o xerife (Edgar Vivár, o Barriga), que só usa a estrela pra prender o bolso da camisa. Ele e o banqueiro (Kiko) pedem ajuda a Chapolin, que passa a colar cartazes de recompensa, mas também aproveita pra colar alguns de "Vamos à Disneylândia com o Polegar Vermelho". Aproveita até pra oferecer suas revistinhas para o vilão, logicamente que por medo dele hehehe. No fim, Chapolin vence Racha-Cuca no braço.
Já o segundo mostra dois vaqueiros jogando cartas até que chega a mocinha pra tirar água do poço. Todos no vilarejo estavam com medo de Racha-Cuca, que se disse dono do poço e cobrava 5 dólares ou um saquinho de alfafa pra tirar um balde d'água. Chapolin é chamado pra ajudar e, no confronto com o bandido, os dois caem no poço. Se segurando na corda, começam a se chutar dentro do poço, confundindo os habitantes sobre qual ponta da corda puxar pra salvar o Polegar.
Apesar da produção pobre, o sucesso de Chaves e Chapolin é imenso e inexplicável, deixando a todos nós a frustração de perdermos mais um integrante do elenco. Só nos resta agradecer a esse gênio do humor por todos os momentos de diversão que ele nos proporcionou nesses 30 anos e, com certeza, nos proporcionará pelos próximos 30. Tinha que ser o Chaves mesmo. See ya later...

2 comentários:

  1. o episódio do julgamento é parecido com aquele programa Pé de mais Um hahahaha...

    Parabéns pelo blog, André!!! Abraços...

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